Nos últimos anos, o empreendedorismo feminino se tornou um dos principais motores de transformação econômica e social no mundo. No Brasil, segundo o Sebrae, 34% dos donos de negócios são mulheres — o equivalente a 9,3 milhões de empreendedoras. Apesar do crescimento, elas ainda enfrentam barreiras históricas, como acesso limitado a crédito, dupla jornada e estereótipos de gênero. Neste artigo, exploramos os desafios que persistem, as oportunidades emergentes e como as mulheres estão reescrevendo as regras dos negócios, combinando lucratividade com propósito.
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**O Cenário do Empreendedorismo Feminino**
De acordo com o Relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2022), as mulheres representam 43% dos empreendedores em estágio inicial no Brasil, mas apenas 15% delas lideram empresas consolidadas (com mais de 3,5 anos de operação). Essa disparidade revela obstáculos estruturais:
– **Setores limitados**: 60% das mulheres empreendedoras atuam em serviços de beleza, moda ou alimentação — nichos tradicionalmente associados ao “trabalho feminino” e com menor valor agregado.
– **Falta de acesso a capital**: Apenas 3% do capital de risco no Brasil é destinado a startups fundadas por mulheres, segundo a Distrito.
– **Carga mental**: 72% das empreendedoras brasileiras são mães e precisam conciliar negócios com responsabilidades domésticas (pesquisa Rede Mulher Empreendedora).
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**Desafios que Persistem**
**1. Viés de Gênero no Ecossistema Financeiro**
Mulheres enfrentam mais dificuldades para obter empréstimos e investimentos. Um estudo do Banco Mundial mostrou que, mesmo com taxas de inadimplência menores que as dos homens, elas recebem propostas de crédito com juros 30% mais altos. No mercado de venture capital, apenas 5% das startups lideradas por mulheres na América Latina recebem funding.
**Causas**: Estereótipos como a ideia de que mulheres são “menos ambiciosas” ou “menos preparadas para riscos”.
**2. Dupla (ou Tripla) Jornada**
A divisão desigual de tarefas domésticas faz com que muitas empreendedoras trabalhem em média 18 horas por dia, segundo a ONU Mulheres. A falta de políticas de apoio à maternidade e a escassez de redes de suporte agravam o problema.
**3. Falta de Representatividade em Liderança**
Apenas 10% das empresas listadas na B3 (Bolsa Brasileira) têm CEOs mulheres. A ausência de modelos inspiradores em posições de poder desencoraja jovens a empreender em setores como tecnologia e indústria.
**4. Assédio em Ambientes Corporativos**
Em redes de negócios ou eventos, muitas mulheres relatam desvalorização de suas ideias ou assédio velado, como ser chamadas de “agressivas” por defenderem seus projetos.
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**Oportunidades e Estratégias para Superar Barreiras**
**1. Redes de Apoio e Mentoria**
Organizações como a **Rede Mulher Empreendedora (RME)** e **Female Founders** conectam mulheres a mentores, investidores e parceiras. Exemplo: a startup de educação **MariMe**, fundada por Mariana Costa, recebeu mentoria de Sheryl Sandberg (COO do Facebook) e hoje treina mulheres em programação.
**2. Financiamento Alternativo**
– **Crowdfunding**: Plataformas como **Benfeito** e **Kickante** permitem captar recursos diretamente do público.
– **Fundos de Impacto**: Iniciativas como o **WA4STEAM** (Women Accelerator for Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics) investem em negócios liderados por mulheres.
**3. Tecnologia como Aliada**
Ferramentas digitais ajudam a escalar negócios com custo reduzido:
– **E-commerce**: A marca de calçados **Dumelia**, criada por Luana Génot, vende 100% online e já faturou R$ 1 milhão em um ano.
– **Automação**: Apps como **Nibo** (gestão financeira) e **Hotmart** (venda de cursos) otimizam tempo.
**4. Empreendedorismo com Propósito**
Mulheres estão liderando negócios que unem lucro e impacto social:
– **Flávia Rêgo**, da **Legado da Amazônia**, promove moda sustentável com comunidades ribeirinhas.
– **Camila Achutti**, da **Mastertech**, capacita mulheres em tecnologia e já treinou mais de 50 mil pessoas.
**5. Políticas Públicas e Empresariais**
Programas como o **Empreendedorismo Feminino do Sebrae** oferecem cursos e consultorias gratuitas. Grandes empresas como a **Natura** e **Itaú** possuem editais exclusivos para fornecedoras mulheres.
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**Cases Inspiradores**
**Luiza Trajano (Magazine Luiza)**
De balconista a CEO da maior rede varejista do Brasil, Luiza transformou o Magalu em uma potência do varejo digital. Sob sua liderança, a empresa criou o **Programa Trainee para Mulheres Negras**, combatendo duplamente o racismo e o machismo.
**Leila Velez (Beleza Natural)**
Criou uma rede de salões especializada em cabelos crespos, desafiando padrões estéticos e gerando 1.500 empregos. A empresa foi vendida em 2019 por R$ 1 bilhão.
**Ana Fontes (Rede Mulher Empreendedora)**
Fundou a maior rede de apoio a empreendedoras da América Latina, impactando mais de 1 milhão de mulheres.
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**O Futuro: Por Que Apoiar o Empreendedorismo Feminino?**
– **Impacto econômico**: Segundo a McKinsey, igualdade de gênero no mercado de trabalho adicionaria US$ 12 trilhões ao PIB global até 2025.
– **Inovação**: Empresas com equipes diversas são 21% mais lucrativas (Boston Consulting Group).
– **Transformação social**: Mulheres reinvestem 90% de sua renda na educação e saúde da família, criando ciclos virtuosos.
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**Conclusão: Rompendo Teto de Vidro e Construindo Legados**
O empreendedorismo feminino não é apenas uma questão de equidade, mas de inteligência econômica. Mulheres estão provando que negócios podem ser lucrativos, humanos e transformadores. Como disse Luiza Trajano: *”Não queremos ser melhores que os homens. Queremos ser melhores com os homens.”*
Para as empreendedoras, a jornada ainda é árdua, mas cada nova empresa liderada por uma mulher quebra estereótipos, abre portas e inspira futuras gerações. O desafio é coletivo: governos, empresas e sociedade precisam agir para que o potencial das mulheres não seja mais um recurso subutilizado, mas a alavanca de um futuro mais justo e próspero.
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